
Editora: Alfaguara
Páginas: 315
ISBN: 9788579622267
Livro cedido pela editora em parceria com o blog.
Sinfonia em Branco é, com certeza, um dos melhores romances nacionais
que eu li nos últimos anos. Não poderia dizer que Adriana Lisboa me
surpreendeu, pois já comecei a leitura com bastante expectativa, a
qual foi totalmente correspondida.
A autora já é vista como um dos grandes nomes de literatura brasileira
contemporânea, e a obra em questão venceu o importante Prêmio José Saramago,
além de ter sido traduzida para diversas línguas e ter tido boa recepção lá
fora, sobretudo na França. Portanto, era impossível não esperar muito desse
livro.
É uma obra complexa e não é tão fácil falar sobre ela. Na verdade,
embora o enredo seja cheio de fatos surpreendentes e chocantes, ele fica em
segundo plano. O que realmente importa são as personagens, seu
psicológico, suas emoções. Entre essas personagens, as principais são duas
irmãs, Clarice e Maria Inês, que passaram por um trauma que mudaria
completamente sua existência e a de muitas pessoas que cruzaram suas vidas. É
interessante que muito do que acontece em suas histórias não é contado diretamente,
mas sugerido, o que é totalmente coerente com a própria realidade de Clarice e
Maria Inês, cheia de proibições, cheia de silêncios impostos.
A narrativa é feita em terceira pessoa, com um narrador onisciente. E o tempo não é nada linear. A toda hora é
narrada uma parte diferente da vida das personagens, e nós nunca sabemos, por
exemplo, se depois de uma passagem da vida adulta delas virá uma da infância ou
da adolescência. É interessante, porém, que isso é feito de maneira bastante
lúcida, sem que fiquemos perdidos. A ambientação fica basicamente entre a zona
Sul do Rio de Janeiro e uma cidade do interior chamada Jabuticabais, sobre a
qual tentei pesquisar no Google, mas não achei nada a respeito, o que me faz
acreditar que seja um lugar fictício.
Além de escritora premiada, Adriana Lisboa já foi também musicista
profissional, e a música está presente em sua obra literária. Na verdade, não
só a música. Há um grande diálogo com outras artes. Inclusive, Sinfonia em
Branco é também nome de um quadro de um pintor estadunidense chamado Whistler,
citado diversas vezes no livro. Mas nós acabamos percebendo que o título não se
limita a uma relação com a pintura, ele também pode ser encarado como uma referência
ao silêncio que permeia toda a obra.
Adriana Lisboa impressiona com seu estilo único. Sua prosa é leve, precisa
e cheia de poesia. A beleza do texto vicia. A escrita da autora é também cheia
de pequenos detalhes que a fazem diferenciada, como os diálogos, que acontecem
sem qualquer sinalização, de forma direta. Concluindo, se você procura por um
texto profundo e bem escrito, Adriana Lisboa é uma boa pedida e está aí para
reafirmar a qualidade dos autores nacionais contemporâneos.
É um riquíssimo livro permeado de uma beleza incontestável em sua escrita. Adriana consegue mergulhar o leitor no mais íntimo das personagens. Não é um livro esquecível, pelo contrário... Está em um dos primeiros de minha lista de contemporâneos!
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